sexta-feira, 25 de maio de 2012

Minha Guia: Samba Gia

Minha Guia

 Este samba fala sobre um dos trabalhos do GIA: o projeto Minha Guia, que visa elaborar formas práticas de realizar o comércio informal, através da construção de objetos, treinamento e capacitação de profissionais autônomos.

Camelô de Cildo Meireles


Exposição baseada no cotidiano de camelôs que vivem espalhados pelas calçadas das cidades e sobrevivem da venda de bugigangas. "Camelô" é para o artista uma lembrança de infância: uma nada entre tantos, único ante todo. Um vendedor de alfinetes, um vendedor de barbatanas e um vendedor de bonecos; uma inconcebível lógica valor. Um humílimo minimalismo.






Para ver o curriculo do artista, clique aqui!

Marepe e os ambulantes, segundo Priscila Lolata

Assim, Marepe recolhe estas imagens através de uma procura que segue o
rastro do homem popular, percorrendo seu caminho, com o objetivo de aprender
com ele os caminhos para a feitura de seu meio de trabalho, ou o seu facilitador.
Marepe fala de suas influências artísticas, de Marcel Duchamp e de Lygia Clark, e
coloca, junto a estes “bens institucionalizados”, os trabalhadores que servem de
foco para seus trabalhos derivados do ambiente urbano, relacionado ao mercado
informal:

(...) mas também existem umas figuras que eu passei muito tempo
observando, que são os vendedores ambulantes, os objetos, os
utensílios do trabalhado deles. Isso faz parte do meu trabalho, que eu
também devo a eles (MAREPE, 2002, s/p).

Essas relações com os ambulantes são bastante contundentes nas bancas
de vendedores (Figura 56) e estão implícitas nas trouxas. O depoimento de Lisette
Lagnado sobre as bancas aponta uma vertente em relação ao processo criativo de
Marepe:
Semana passada, Laura me levou à Feira de São Cristóvão, no Rio de
Janeiro, e foi uma chegada na terra. Continuo chegando na “ciência do
concreto” para diminuir minha distância com tuas bancas de camelô,
exposta na mostra do Antarctica Artes com a Folha, em 1996. As bases
da discussão acerca do transporte de valores já estavam lançadas,
naquela época por intermédio do comercio informal, na imagem dos
ambulantes de rua. De que modo as barracas dos ambulantes passam a
funcionar dentro de um pavilhão de arte, do circuito institucional? Seu
procedimento não ficou devidamente explicitado, gerando uma série de
ambigüidades. Mais uma vez, “apropriação” seria um conceito
inadequado; proponho “edificar”. Você fotografa a cena, seus elementos
constitutivos, observa assiduamente detalhes, reinventa o método do
outro refazendo aquilo que foi feito sob necessidade. Atua como um
pesquisador que vasculha céus a fim de entender o sentido das coisas,
onde comprar determinada madeira, onde encontrar os rudimentos que
faltam. Enfim trata-se de andar na pegada do homem da rua, rastrear o
caminho percorrido por um trabalhador até erguer sua própria barraca,
viver um conjunto de gestos, a casa, as ações e o corpo do outro
(GALERIA LUISA STRINA, 2002).


As bancas não operam no mesmo sentido que os ready mades (Figura 57),
conclui Marepe. Ele fala desta diferença apontando que Marcel Duchamp, ao
pegar um objeto industrializado,
está escolhendo algo que passou pela mão do design, de um ser humano, mas que depois a feitura deixa de ser do humano e passa a ser da máquina, sendo um objeto industrial, de produção em série. O artista, percebendo a distinção de sua produção, revê o procedimento de Duchamp e retraça um outro conceito, em homenagem ao artista francês, o de “nécessaire”. O artista explica, “eu tirei a palavra ready made e coloquei nécessaire. Quis fazer uma homenagem, porque Duchamp era francês” (MAREPE, 2002, s/p). E recoloca um outro objetivo com o deslocamento do nome, pois, acaba por definir um outro conceito que estaria mais  ligado à necessidade, do necessário, do necessitado, então a presença da mão humana, a presença do homem ali. O objeto em si revela muito do que está em volta dele”, reflete o artista (MAREPE, 2002, s/p). Essas bancas que Marepe edifica para o meio artístico refletem, entre tantas outras, as soluções que o trabalhador informal cria para melhor

comercializar seus produtos. Priscila Lolata fala, no artigo “Apropriação: do ready
made de Duchamp ao nécessaire de Marepe”, sobre a dinâmica da indústria  capitalista e seus agregados (moda, publicidade etc), ou seja, às necessidades de consumo do ser humano e as necessidades para a sobrevivência, que se aproveita das necessidades anterior:

A necessidade incomensurável de criação das necessidades através da
fabricação de produtos e objetos em escala muito maior às que
realmente necessitamos. Ao mesmo tempo, estamos diante da
necessidade de viver, comer, divertir-se, o que leva um número enorme
de “cidadãos” a criar situações para reverter outras situações
desfavoráveis: a do desemprego e da falta de dinheiro e oportunidades
(in CADERNOS MAV-EBA-UFBA, 2004, p.63).

Essa análise revela um fator importante para a compreensão do trabalho de
Marepe: a relação com o mundo a ser percebido. “Mas o objeto visto é feito de
fragmentos de matéria e os pontos do espaço são exteriores uns aos outros. Um
dado perceptivo isolado é inconcebível, se ao menos fazemos a experiência
mental de percebê-lo”, coloca Merleau-Ponty (1999, p.25).
A escolha do material não se dá por questões meramente estéticas. A essência essas barracas, ainda que não sejam as barracas que estavam na rua, o conteúdo impregnado nelas, revela o seu contexto, os “fantasmas” da rua também vão para  espaço institucional através do ato de Marepe, da ação, desde sua observação do mundo até a escolha do objeto. E é nessa absorção do contexto em que se encontra o objeto escolhido que reside o conteúdo teórico dos trabalhos. É difícil ver uma banca sem remetê-la ao seu local tradicional, à condição de seu dono e, assim, sucessivamente.

(...) por que olhar o objeto é entranhar-se nele, e porque os objetos
formam um sistema em que um não pode se mostrar sem esconder
outros. Mais precisamente, o horizonte interior de um objeto não pode se
tornar objeto sem que os objetos circundantes se tornem horizonte (...)
(ibidem, p.104).

O material precário44 está muito presente nessas bancas. A relação do
artista com a desmaterialização do objeto está ligada a esta precariedade, e aos
seus materiais. Uma de suas bancas, a “Banca de Bijuterias” (1996-1998) (Figura
58), participou, em 1997, do Salão do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro,
e, em 2002, foi exposta na Galeria ACBEU de Salvador, quando se notava a falta
de algumas peças que compunham a banca, o trabalho de arte. O artista relata
que as pessoas pegavam escondidas as bijuterias. Furto? A despreocupação do
artista com o fato remete ao texto “Posição e programa”, de Hélio Oiticica, quando
ele trata do “Programa Ambiental”. Guardando as devidas situações e contextos,
há uma relação entre a Banca de Bijuterias (1996-1998) de Marepe e determinado
“Bólide” de Oiticica, quando o segundo fala da experiência do trabalho ter partes
furtadas, cujo elemento é consumido:

Bólide composto de uma cesta cheia de ovos – estes são perecíveis
(ovos reais) logo têm de ser consumidos para a substituição – é, digo eu,
segundo Mário Pedrosa, um escárnio ao chamado comércio de arte
criado pelas galerias: aqui, o elemento que compõe a obra é vendido a
preço de custo, preço acessível a qualquer pessoa (há ainda a simpática
possibilidade de se poder roubar um ou mais ovos às escondidas, o que
torna maior o escárnio) (in CATÁLOGO HELIO OITICICA, 1998, p.104).

A dicotomia do objeto de arte e de seu valor de origem, está presente no
trabalho de Marepe. A participação do expectador, no caso da “Banca de
Bijuterias”, acontece também via contravenção lícita, já que o artista não vê esse
“furto” de forma negativa. Uma ação que brinca com a aura da “obra de arte” no
cubo branco. Essa banca ainda é toda forrada de veludo vermelho, uma provável
forma de valorizar as peças douradas imitando jóias de ouro, e gera ainda uma
relação barroca, pela riqueza dos detalhes e pela relação do dourado, comum nas
inúmeras igrejas barrocas de Salvador, e o vermelho, sempre presente nos ornamentos e adereços religiosos desse estilo.

Para ter acesso à dissertação na íntegra, é só clicar aqui! 

ou procurar:

MAREPE: MEMÓRIA, DEVANEIO E COTIDIANO NA ARTE CONTEMPORÂNEA DA BAHIA


Segundo o Wikipédia

Um vendedor ambulante, no Brasil comumente chamado camelô, são os comerciantes de rua do economia informal ou clandestina, com banca improvisada, em especial nas grandes cidades.
A palavra camelô é um galicismo (provém de camelot, em francês, "vendedor de artigos de pouco valor"), e muitas vezes é substituída por "marreteiro". Camelô e ambulante são sinônimos, só que a primeiro é uma denominação popular e a segundo é uma denominação da legislação, pode exercer vendas em um ponto fixo ou as exercê-las em movimento.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Camelô

Etimologia

A origem da palavra é o árabe khamlat , nome que se dava aos tecidos rústicos comercializados em feiras livres e apregoados aos berros pelos vendedores, os camelôs de séculos atrás. Foi quando se popularizou, na França, o verbo cameloter, vender quinquilharias, coisas de pouco valor.

http://pt.wiktionary.org

Edson Gomes - Camelô


Camelô  

Edson Gomes

Sou camelô, sou de mercado informal
Com minha guia sou, profissional
Sou bom rapaz, só não tenho tradição
Em contra partida sou, de boa familía.

Olha doutor, podemos rever a situação
Pare a polícia, ela não é a solução, não.

Não sou ninguém, nem tenho pra quem apelar
Só tenho o meu bem que também não é ninguém

Quando a polícia cai em cima de mim
Até parece que sou fera
Quando a polícia cai em cima de mim
Até parece que sou fera
Até parece, até parece...

David - Camelô, marketeiro e palestrante

Kits Ambulantes




Os Kits Ambulantes dos artistas Breno Silva e Louise Ganz, são equipamentos para uso em espaços vagos, que permitem intensificar o seu dia-a-dia nas cidades. São caixas móveis de 50 x 50 x 20 cm com rodas e alças que se transformam em diversos ambientes. Com eles você potencializa o uso temporário de espaços como as calçadas, as vagas de carro nas ruas, os terrenos baldios, os quintais de casas, as marquises, os canteiros de circulação de veículos, feiras e outros. Usando os kits você pode prestar serviços, divertir-se, descansar, cultivar plantas, criar animais. São eles: kit manicure, kit piscina, kit banho, kit mesa, kit baile, kit granja, kit hortaliças, kit biblioteca, kit casamento e kit propaganda, além dos kits mochilas: picnic, tenda e quadra de jogos.

Vejam mais kits no endereço:
http://kitsambulantes.blogspot.com.br/

Leia aqui o livro Kits Ambulantes

O livro é parte da obra Kits Ambulantes dos artistas Breno Silva e Louise Ganz. Traz um manual de instruções de como usar os kits móveis em diversos espaços da cidade, assim como narrativas do uso dos kits em diversas localidades no mundo, e como isso interfere no cotidiano das pessoas.

miolorona5-reenumerado

terça-feira, 22 de maio de 2012

EU ♥ CAMELÔ por Ophélia Patrício Arrabal

EU ♥ CAMELÔ

Ambulante, aquele que anda, que não permanece no mesmo lugar; que vai de terra em terra, ou de rua em rua; ambulativo, errante, erradio. Camelô, mercador que vende suas mercadorias nas ruas, geralmente nas calçadas ou nas praças, ou em cidades como o Rio de Janeiro, nas areias da praia. Ambulantes ou camelôs trafegam a pé pela paisagem da cidade, deambulam com seus multi-múltiplos, com seus gritos e suas gingas, criando uma teia de comércio e comunicação informal nos espaços públicos da cidade. João do Rio dizia que o flaneur tem sempre um milhão de coisas imprescindíveis a fazer que podem ser eternamente adiadas. O camelô não. O camelô é errante porque seu destino é onipresente. Eles estão onde quer que exista quem os queira. Os ambulantes são os flaneurs da objetividade. Gritos, promoções, parábolas, repentes, digressões, rimas e cantos impulsionam seus produtos para mais longe, para onde os pés não podem alcançar. A informalidade e o improviso fazem a liga destas relações fugazes que se estabelecem com estes lojistas, que como caracóis, carregam suas lojas nas costas.
Nestes tempos de choque de ordem, de cerceamento da liberdade ambulante e criminalização do comércio informal, o OPAVIVARÁ! Lança a campanha EU ♥ CAMELÔ e bota lenha na fogueira da discussão, exaltando este devir-camelô que se esgueira no asfalto ou nas areias escaldantes, fugindo e apanhando da lei enquanto refresca a sede do PM, do gringo e do playboy. Este devir-camelô é a cidade pulsando sua vontade de contato, sua fome existencial que deságua no consumo. Ser camelô é uma atividade democrática e solidária. Em uma sociedade submersa na cultura do consumo, o comerciante informal tem o seu lugar como agente pulverizador da cultura, impulsionando, diversificando e ampliando a veiculação de produtos, objetos e informações; levando as novidades da última moda para um público muito mais extenso e horizontal.
Na atual discussão em torno das proibições sobre o comércio ambulante, o camelô incorpora uma das figuras centrais de nossa eterna luta de classes que, no Rio de Janeiro com suas especificidades históricas e geográficas, acabou por moldar uma cidade que se constrói e se destrói ao mesmo tempo sob a dialética do morro e do asfalto. É a geografia natural, orgânica e generosa das montanhas, praias e lagoas que resiste ao urbanismo cartesiano, moderno e disciplinar das avenidas, aterros e esplanadas. É a memória do Morro do Castelo a ecoar na Avenida Central, são os fantasmas da Praia do Pinto assombrando os apartamentos da Selva de Pedra. É a favela se infiltrando por entre as grades do condomínio. É o improviso e a gambiarra de um comércio corporal e humano que atravessa os cartéis dos conglomerados industriais.
Marc Ferrez fotografou vendedores ambulantes do Rio de Janeiro durante os últimos anos do século XIX, pouco antes das reformas modernizadoras, a la mode de Paris, do governo Pereira Passos. Ferrez documentou todas as transformações da paisagem carioca com um olhar tão atento ao passado que era demolido como para o futuro que se construía. Os ambulantes retratados por ele também ajudam a compor esta paisagem que se perdeu no tempo. Hoje, um Rio de Janeiro pré-olímpico, se vê novamente obcecado por uma faxina modernizadora, que busca soluções rápidas e alegóricas para se eliminar ruídos na paisagem. No início do século XX, um dos principais argumentos para a derrubada dos morros do centro da cidade, era de caráter higienista, diziam que os morros impediam a circulação de ar na cidade ajudando na proliferação de doenças como a tuberculose. Hoje, os higienistas vão às praias para dizer que os produtos e métodos de venda empregados pelos ambulantes representam riscos à saúde dos cidadãos. E assim, as políticas públicas, movidas por este espírito ascético, vão abrindo caminho para indústrias multinacionais, roubando o espaço de expressões populares, autênticas e tradicionais de nossa cultura. Nesse jogo de forças, o camelô se impõe como uma intervenção anárquica na cidade ordenada que o estado pretende, como personagem central da resistência, orgânica, rizomática, corporal e sensível da cultura popular carioca.
É pensando a exposição como uma intervenção no Shopping da Gávea que o OPAVIVARÁ! transforma a galeria em um satélite da praia e um QG de campanha. Os produtos ofertados, surgidos da intensa relação com o espaço democrático da praia, misturam design industrial com gambiarra artesanal e não são objetos distantes do público. Como na banca de um camelô, aqui tudo pode ser tocado, experimentado, sentido e, claro, comprado. As cadeiras de praia coletivas e o galão de mate com múltiplas bicas, mantêm ativos os caminhos de ambientes relacionais do grupo. A ambientação sonora funciona como dispositivo atmosférico que transforma a galeria em camelódromo auditivo, e se materializa também em CDs piratas, ou simplesmente caseiros, para se ouvir aonde quiser. Os retratos de vendedores ambulantes da praia de Ipanema, aqui não são apenas registro histórico-antropológico, são cartões postais de uma cidade que vive no limite da ilegalidade e na fragilidade de sua imagem. Tudo está a venda, em oferta, “na promoção”, com obras de arte a 1 real para não serem reféns do universo restrito do mercado de arte. Obras de arte para circular, como devem circular livremente as mercadorias de um camelô.